sexta-feira, 8 de julho de 2011

As aventuras de um estagiário perdido na Savassi

Eu era estagiário, e como todo bom e velho estagiário eu fazia tudo, menos o serviço que fui contratado pra fazer, entre varrer as salas, comprar pão e tocar arpa vestido de anjo para acalmar os ânimos dos outros funcionários eu também tinha que buscar os filhos da minha chefe na escolinha...
Eu morava em Vespasiano nessa época e não estava habituado com o trânsito em Belo Horizonte, principalmente na área da Savassi, que pra dizer a verdade, não conhecia nada...
16:30 da tarde peguei o Monza SL/E (na época era um carrão)da patroa e saí do Prado, sentido Savassi para pegar os meninos, até aí tudo bem, a primeira criança estudava numa escolinha na Tomé de Souza e a outra no Colégio Santo Antônio na rua Pernambuco, hoje é fácil dizer que é tranquilo de chegar, eu também não teria dificuldade nenhuma, mas imagina um cara que acabou de tirar carteira, e não conhecia direito as ruas de Belo Horizonte...
Para piorar um pouco a situação, era Sexta-feira...
E para piorar ainda mais, chovia torrencialmente...
Observação: Eu não tinha celular naquela época, e GPS era coisa de ficção científica...
Pois então, os momentos que se seguiram foram os piores na minha estória como estagiário, peguei primeiro a garotinha e coloquei no carro, a primeira frase que ela disse foi:
 _Estou com fome!
As barrinhas de cereais ainda não existiam nessa época...
Saí da Tomé de Sousa e uma hora depois eu ainda não havia conseguido chegar a nenhum acesso à Pernambuco...
Lembre-se que chovia torrencialmente...
Eu dirigi, dirigi, dirigi e nunca chegava...
O trânsito foi piorando, e daí o mundo parou...
Pensei em procurar um orelhão e ligar para o escritório e dizer que eu estava perdido, mas como? Como estacionar um carro na Savassi numa sexta-feira chuvosa com uma criança de 4 anos e procurar um orelhão na chuva?
Daí a criança começou a chorar:
_Eu quero a minha mãe...
_Eu to com fome...
_Eu quero o meu pai...
_Eu quero minhas bonecas...
E por aí foi...
Pois é minha gente, comecei a rezar e pedir pra Deus me teletransportar para a porta da do colégio Santo Antônio, e pasmem...
Aconteceu de verdade...
Dirigindo sem rumo pela Savassi parei numa esquina e quando leio a plaquinha:
Rua Pernambuco
Obrigado Senhor
Desci a rua e lá estava a placa em letras garrafais: COLÉGIO SANTO ANTÔNIO...
Foi o primeiro milagre que aconteceu na minha vida...
Cheguei à escola e quando chamei pelo garoto que esperava sozinho, a primeira frase que ele disse:
_Minha mãe vai te matar, eu já liguei pra ela umas vinte vezes!
Eu sabia que meu estágio ia acabar aquele dia, mas nada mais importava, os garotos estavam salvos e iriam ser entregues...
Desci novamente para o Prado e mais duas horas de trânsito engarrafado depois cheguei à empresa...
Com direito a carro de polícia e reunião familiar eu cheguei com os meninos e só não soltaram foguetes por que a situação era muito ruim...
Saí do carro e a mãe aos prantos abraçou as crianças...
Fui tratado como sequestrador e tomei um cocão do irmão mais novo da minha chefe...
Gordo filho da puta se fosse com os direitos trabalhistas de hoje você ia ver...
Fui interrogado pela polícia, mas ninguém acreditava que eu tinha errado o caminho...
Acabei não perdendo o estágio e na necessidade repeti a aventura de buscar os meninos muitas vezes até conseguir um emprego efetivado em outra empresa...
Mas o cocão eu nunca esqueci...
Estagiário sofre...
Salvem os estagiários...
Salvem as baleias...

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