Amigo é a luz que não deixa a vida escurecer.

Eu li isso num desses Power points que a gente recebe em forma de correntes.

Não passei para cinco milhões de pessoas, mas guardei essa frase que achei interessante, e verdadeira. Nos últimos dias tive o privilégio de me encontrar, ou pelo menos falar com meus amigos, pelo menos os melhores e assim a vida nos sorri.

Já dizia que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, assim falava a canção que na América se ouviu... Eu discordo. Amigos deveriam ser vendidos como remédios na farmácia, pra gente carregar no bolso e tomar sempre que sentirmos falta deles.

_Poxa, to de mau humor, vou tomar uma pílula de Thiago Boaventura...

_Quantas dúvidas, vou tomar uma dose de Craig Mundell, ou injetar um Alex Pereira na Veia...

E por aí vai.

Ou os amigos podiam vir em cápsulas, como aqueles brinquedos que você coloca na água e o bicho incha...

_Nossa, que vontade de tomar uma e jogar conversa fora, ah sim, vou jogar minha cápsula de Fred aqui na água, daí o Fred aparece pra gente falar merda...

A vida podia ser fácil assim, né.

Mas não é.

A gente tem que se acostumar com a distância por que chega uma hora na vida que a gente tem que ser responsável e pagar um bolo de contas. Bom mesmo seria se os amigos pudessem ser comprados no supermercado, mas alguém um dia inventou que amizade é sentir, e que as pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas talvez não tenha mensurado que não é por acaso que elas permanecem.

Na escola, sempre tinha um que se aproximava e pedia: Posso ser seu amigo?

Geralmente era alguém desenturmado, que não conhecia outra maneira de criar laços a não ser solicitando formalmente. Raramente dava certo, pois amizade é uma coisa que se constrói devagarzinho, depois de muitas emoções vivenciadas em conjunto...

Minha mãe já me disse que amigo é aquele que já comeu um quilo de sal na sua mesa...

Mistérios da Dona Ângela, mas dá pra entender que é aquele que já compartilhou muita gororoba na sua casa...

Já passamos disso, Hein Frank...

Mas se fosse fácil, se bastasse pedir, eu saberia pra quem. Bateria no ombro do Will Smith e com a cara-de-pau que Deus me deu, perguntaria: Would you like to me my friend, bro? Aquele cara deve ser muito legal de se ter como amigo e um balada quebra –tudo vale mais do que qualquer atestado de idoneidade.

Videokê é muito trash, mas com o Sílvio Santos e o Chico Anízio eu passaria horas cantando o repertório do Só Pra Contrariar e iria me divertir feito um pagodeiro nato.

Imagina o Chico Buarque lá em casa num churrasquinho básico tocando o Samba do Avião junto com Os Cariocas. Ou a Chris e eu nos encontrando com e Ivete Sangalo num barzinho pra tomar um chopp?

Eu gosto de pessoas inteligentes com uma dose gorda de senso de humor. Não precisa ser famoso. Tem gente em quem eu bato o olho e penso: deve ser legal ser amigo dele. É gente que não carrega o mundo nas costas, que fala olhando nos olhos, que não se leva tão a sério, que é franca na hora do sim e na hora do não. É difícil sacar as qualidades de uma pessoa sem antes conhecê-la, mas intuição existe pra isso. Tenho vários amigos que enriquecem minha vida e se encaixam no meu conceito de "pessoas especiais", mas meu coração é espaçoso e está em condições de receber novos inquilinos: Pedro Bial, se você quiser, ainda tem lugar.

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde